31.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte oito

na escola ensinaram-nos que devíamos escrever histórias com princípio, meio e fim. cabeça, tronco e membros. então perdoem-me porque o final desta história não me é conhecido ainda. mas sei que brevemente estas paredes cor de rosa vão deixar de ser minhas. sei que, brevemente, esta casa não mais será a minha casa. e sei que, brevemente, eu vou perder um bocadinho do mundo porque vou perder esta cidade. tomar decisões nunca foi comigo. eu tenho dificuldade até em escolher o que é que quero jantar, quanto mais o que é que quero fazer com a minha vida. tomar decisões é uma coisa que faz as minhas mãos transpirarem, a respiração acelerar e o meu humor ficar impossível. tomar decisões que tenham um grande potencial de mudar a minha vida, só agravam ainda mais esses sintomas.
exatamente há um ano atrás, quando soprava vinte e uma velas do meu bolo de aniversário, as minhas amigas do coração ofereceram-me um postal que - não me conhecessem elas tão bem - dizia a vida começa onde a tua zona de conforto acaba. esse postal está comigo desde o dia em que me fui embora. disseram-me elas que era um postal inspirador para momentos difíceis. desenganem-se já se estão a pensar que isso tornou a decisão mais fácil. uma ova é que tomou a decisão mais fácil. muita coisa boa vem das coisas fáceis. mas nada de fantástico. e às vezes o que nós precisamos é mesmo de qualquer coisa fantástica, ou com um enorme potencial de o ser, para dar a volta a tudo e pôr o mundo de pernas para o ar e fazer-te ficar acordada a noite toda a olhar para as estrelas no teto. eu não sei o que foi, talvez demasiada impulsividade - para variar - mas, naquele momento, não me apeteceu ignorar o que estava a pensar e o que a situação me fazia sentir. e então agarrei no telemóvel e respondi ao email. good evening, I'm very happy to accept your offer. e a seguir larguei o telemóvel e chorei. chorei porque esse foi o dia em que estas paredes cor de rosa deixaram de ser minhas. e caramba, se me tivessem dito isto há uns meses atrás eu tinha achado que estavam todos loucos, mas a verdade é esta: dificilmente vai haver uma cidade que signifique tanto para mim como esta, que me tenha dado tantas coisas como esta. e eu não anseio o momento da despedida.

parabéns manganet. a mim, aos meus vinte e dois, e a tudo o que esta cidade me deu. for better things to come.

Não é para me exibir nem nada mas

muitas vezes tenho a sensação de que num grupo até bastante grande de pessoas eu só a única que faz uso do cérebro que a biologia e a evolução me deram.

E se eu agora fosse idiota como os meus passageiros

chegava ao avião e começava a reclamar com a tripulação sobre o facto de ser inadmissível que esta companhia cobre pelas malas ao staff e ainda os fazer pagar por excesso de peso da bagagem, porque de facto é inadmissível. Mas felizmente eu sei que a culpa não é deles.

Para este Halloween

decidi ser um zombie e só dormi três horas para o efeito ser mais realista.

Sou oficialmente uma pessoa traumatizada

esta noite sonhei que um passageiro me tentava bater.

30.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte sete

tudo mudou no dia em que, depois de uns dias em portugal, cheguei aqui e tinha um email à minha espera. o resto da história vocês já adivinham: de repente esqueci-me da parte do estar quieta e achei só mais uma tentativa também não pode fazer mal a ninguém. quando dei por mim tinha uma viagem marcada, já estava sentada no avião e passado o que me pareceu ser demasiado tempo, tinha uma camisa vestida e batom nos lábios e estava a fazer conversa de circunstância com um bando de desconhecidos. [essa parte da conversa de circunstância nunca foi o meu forte. fico sempre com a sensação que as outras pessoas dominam essa arte muito melhor do que eu]. mais uma vez dei por mim a voltar a esta cidade como se nada tivesse sido - ou pelo menos a tentar forçar-me a agir como se nada tivesse sido -, até que, mais uma vez, um email mudou tudo - ou quase tudo.

29.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte seis

mas claro que não era tudo perfeito, ou não estaria a contar esta história.
rapidamente percebi que gostava do trabalho que fazia mas não da forma que o fazia. achava acho eu. na minha cabeça eu achava que as coisas podiam ser melhores, que havia tanto espaço por onde as coisas podiam melhorar. tantos e se que gritavam dentro de mim à espera duma resposta. e então eu, como pessoa inquieta que sempre fui, não consegui ignorar essa urgência que sentia em experimentar coisas novas. se já tinha conquistado esta parte, porque não conquistar o resto? porque não tentar? curiosamente todas as tentativas que fiz saíram falhadas. todas as restias de esperança que podia ter eram completamente atiradas para o chão quando ouvia mais um não. e então eu parei. pensei que se calhar não era a altura para isso. que, se calhar, as coisas não precisam de ser sempre para ontem. que, se calhar, não devia querer já conquistar o resto. que, se calhar, aqui era onde eu devia estar.

28.10.16

Trocas as voltas à vida e ela troca-te as voltas a ti

estava aqui a pensar como é que ia ocupar o resto do meu dia de stand by quando me apercebi que é sexta feira e sexta feira é significado de episódios novos.

'Tamos bem

entre trabalho, arrumações, malas, mudanças e - mais recentemente - papelada (muita papelada!) no outro dia consegui arranjar aquele tempinho precioso para tratar da juba. ora, assim muito resumidamente: existem aquelas pessoas que acham que o cabelo tem de ser pintado todos os meses porque depois começam a aparecer as raízes e beca beca siga de encher o cabelo de químicos todos os meses. depois existem as pessoas como eu (creio que somos uma espécie mais rara): eu não tenho um prazo nem uma data nem nada disso de quando devo pintar o cabelo. pinto-o quando me dá na gana. tão depressa acontece comprar a tinta deixá-la para ali dentro do armário semanas e semanas à espera que me dê na tola para a usar, como acontece ir à loja, escolher a cor e no próprio dia chegar a casa e pintar. tudo depende. depende do tempo (principalmente), do estado em que está o cabelo (limpo ou a precisar de ser lavado) mas, sobretudo, da paciência que tenho para o fazer, que a brincar a brincar isto ainda é um processo demorado. ora bem, desde que comecei a pintar o cabelo (há dois anos? três?) já experimentei muitas gamas diferentes de tinta (não necessariamente muitas marcas porque nisto do cabelo não arrisco e não é qualquer coisa que me serve). normalmente opto por loreal ou garnier. compro-as no supermercado (aqui na irlanda compro na boots) e pinto sozinha em casa, sem pinceis nem tigelas nem nada dessas coisas chatas e complicadas. normalmente vou sempre para os tons vermelhos e sigo a minha vida sobre o lema red hair, don't care. e o cabelo vermelhor é uma coisa que me faz feliz, somos muito felizes juntos. mas o cabelo vermelho também é uma coisa muito difícil de se conseguir, principalmente se tiverem uma quantidade de cabelo considerável (eu eu eu) e uma cor natural ali nos níveis mais escuros do castanho (eu eu eu). e essa é o principal motivo pelo qual eu passo a vida a saltitar entre as várias gamas de tinta. nas embalagens mostram aqueles vermelhos brilhantes e vivos (calma, também não quero ficar com o cabelo da cor de um semáforo) e dizem que são bons até para os cabelos mais escuros e depois uma pessoa vai para casa, trata do assunto, e era tudo mentira. tudo mentira. tramado. volta e meia lá encontro uma que funciona benzinho e mantenho-me fiel a essa gama mais umas quantas vezes e a coisa dá-se. ora, nesta minha última ida à boots, ia eu toda contente buscar a tinta que andava a usar destas últimas vezes (garnier nutrisse ultra color 5.62, para os curiosos) quando vejo lá em destaque esta nova gama da loreal com colour extender e 4958462820 tons diferentes de vermelho à escolha. o paraíso, portanto. escolhi o tom que me pareceu ficar ali mais ou menos no meio mas mais a puxar para o vermelho-fixe (rezando por tudo para não acertar no vermelho-semáforo) e lá vim embora acompanhada do meu novo pure ruby power. apliquei a tinta no cabelo como faço sempre mas desta vez decidi deixar atuar apenas o tempo que dizia nas instruções (meia hora), visto que na embalagem dizia que era uma cor forte e, mais uma vez, uma pessoa não queria parecer um semáforo, certo? certo. [note-se que normalmente, e pelos motivos capilares que já referi ali mais a cima, costumo deixar a tinta atuar durante umas dois ou três horas]. quando acabou o tempo e fui tomar duche, a cabine rapidamente virou local de um triplo homicídio, com as paredes a escorrer o que parecia ser sangue e as portas de vidro com os salpicos provenientes de enterrar e desenterrar a faca na vítima. um horror mas que, felizmente, saiu tudo rapidamente com água sem ser preciso andar a esfregar. sequei o cabelo com a toalha e depois com o secador e senhores estou rendidíssima! um vermelho daqueles que dizem olha para mim, sou mesmo vermelho mas não te deixa na dúvida se tens de parar o carro ou não. já para não falar que o cabelo continua suave e brilhante como sempre foi. rendidíssima. dentro da embalagem vinha ainda a nova "tecnologia" de colour extender que basicamente é um creme que é suposto aplicar no cabelo ao fim de três e de seis semanas e que ajudará o vermelho-bonito a manter-se como se quer. quando testar isso volto com um feedback. não que eu ache que alguém vá ter paciência para ler esta publicação até ao fim mas 1) acredito fielmente que as boas coisas devem ser partilhadas e 2) este blogue é meu e eu faço o que eu quiser.


Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte cinco

e depois, como em tudo, houve aquele dia em que cheguei aqui e soube-me bem estar de volta. o cheiro do quarto. o barulho da cama. a forma das almofadas. nesse dia achei que estava onde queria estar. na altura não o interpretei dessa forma, mas agora, olhando para trás, sei que foi esse o dia em que estas paredes cor de rosa se tornaram as minhas paredes cor de rosa. continuei sempre a não sair tanto deste quarto como se calhar devia. mas agora já não era por a realidade ser demasiado pesada para a suportar, agora ficava porque sabia bem. sabia bem saber que, dentro destas paredes, eu tinha construído algo meu. tudo aqui tinha um significado para mim. era o meu mundo. o meu canto. o meu sítio. e agora eu pertencia aqui.

27.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte quatro

e eventualmente a realidade deixou de ser tão difícil de suportar. as lágrimas secaram e o pânico desta cidade tão tão longe de tudo o que eu conhecia encontrou um lugar sossegado dentro de mim. disse-o várias vezes: foi o inverno mais frio da minha vida. embora estivesse bastante frio lá fora, isso era só um pormenor desse inverno. mas foi nessa altura, no decorrer desses dias em que a realidade se tornou mais simpática, que eu percebi que, mesmo o inverno mais frio, ia chegar ao fim. e chegou. aos poucos o inverno foi acabando. tanto lá fora como cá dentro. e eu descobri que as paredes cor de rosa também me sabiam sorrir. que a minha manta também dava abraços quentinhos. desde essa altura e até começar a achar que este quarto me sabia a casa ainda se passaram muitos meses. longos meses. por essa altura era uma tortura voltar a casa, à casa onde sempre vivi. quanto mais lá ia, mais queria ficar e menos queria voltar. quanto mais lá ia mais percebia que devia ter ficado aqui. lembro-me de sentir que era como se não pertencesse a lado nenhum. aquele não era mais o meu espaço e constatar isso doía como se tivesse engolido um pedaço de carne demasiado grande, que magoa enquanto desce devagar pela traqueia. mas este também não era o meu espaço. este era só o sítio onde eu estava.

26.10.16

Ups

ia só comer um bocadinho de gelado mas comi todo.

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte três

a primeira noite foi um desafio. as minhas malas pesavam à volta de trinta quilos cada uma e tive de subir dois andares com elas. precisava de dormir e não havia tempo para lavar os lençóis. dormir numa cama com lençóis por lavar foi provavelmente o maior desafio que tive de superar nessa semana. foi difícil mudar de casa enquanto trabalhava. sem dias de folga e com menos horas de sono do que as desejadas, era difícil conseguir realmente fazer a mudança. acho que me deve ter levado umas duas ou três semanas até conseguir esvaziar as malas e tirá-las do chão do quarto. o resto foi um processo gradual. levou meses até este quarto me saber a casa. as paredes cor de rosa olhavam para mim com um ar frio e, embora estivesse contente por termos conseguido a casa que queríamos, eu não queria estar aqui. sair de casa para ir trabalhar naquilo que durante tantos anos tinha esperado deixava-me empolgada. à noite, quando voltava a casa e me deitava, as paredes cor de rosa faziam a barriga doer. já o disse uma vez: estas paredes viram muitas lágrimas nos primeiros tempos. estas almofadas abafaram muitos gritos mudos e esta manta protegeu-me do papão debaixo da cama. embora me custe pensar sobre o assunto e, principalmente recordar essa altura, a verdade é que houve uns quantos dias - não muitos, felizmente - em que a realidade era demasiado triste para sequer ponderar sair da cama e enfrentá-la. e então eu fiquei. fiquei na cama dias inteiros a ouvir o vento uivar lá fora.

25.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte dois

e a festa que se seguiu. os saltos e os gritos no meio da cozinha. o coração a bater mais depressa. a casa era nossa. a casa. o resto da noite e o dia seguinte foram um desenrolar rápido de ações das quais não tenho qualquer recordação, afinal, finalmente tínhamos encontrado um sítio a que podíamos chamar nosso. o desafio seguinte foi a mudança. éramos quatro e entre nós contavam-se doze malas e mais uns quantos sacos. o corredor tornou-se demasiado pequeno com tantas malas. na verdade, tudo se tornou demasiado pequeno com tantas malas, principalmente a vontade de subir e descer escadas com elas. lembro-me do aperto de mão com o agente da casa e do momento em que eles nos passou a caneta para assinarmos o contrato. era oficial. estavamos em dezembro e estava um frio de rachar da rua. deixamos as malas todas no corredor [agora demasiado pequeno] e chamámos um táxi para ir ao centro comercial, que fechava dentro de duas horas. tínhamos duas horas para comprar tudo o que íamos precisar para sobreviver na primeira noite. duas horas mais tarde voltámos para casa, carregados de sacos, almofadas e edredons - umas quantas dezenas de euros mais pobres. e constatámos o que até aí tínhamos preferido ignorar: as malas não podiam ficar indefinidamente no corredor. ah, e constatámos também que estava na altura de tornar aquela casa a nossa casa.

24.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte um

lembro-me do dia em que vimos esta casa pela primeira vez. de acharmos que a zona era um labirinto e que a estrada até aqui era assustadora. lembro-me de esperarmos ao frio pela hora da visita começar e para a porta se abrir. não me lembro ao certo quantas pessoas cá estavam mas lembro-me que a sala rapidamente se encheu, as portas abriam e fechavam, as pessoas subiam e desciam as escadas. lembro que quanto mais entravamos na casa, cada divisão que víamos, mais nós gostávamos dela. fomos embora e não nos calámos durante horas a falar sobre a casa. queríamos vir viver para aqui, estávamos completamente rendidos à casa. lembro-me daquela noite, sentados à mesa da cozinha da casa da senhora onde tínhamos alugado dois quartos, a comer cereais e a falar de quão stressante a procura de casa estava a ser. lembro-me do meu telefone ter vibrado em cima da mesa e de quando atendi, ouvi do outro lado hey, you can go grab the champagne, the house is yours.

Vou dizer assim

estou prestes a descobrir se as pessoas são idiotas e fazem coisas parvas só neste canto do mundo ou se nos outros também.

16.10.16

Faz-me aquela comichão no nariz

pessoas que andam por aí com os atacadores dos ténis despertados como se não fosse nada com elas.

14.10.16

A quantidade certa de almofadas

é todas as almofadas.

2.10.16

Estou com uma mão a escrever esta publicação e com a outra estou já a agarrar as coisas para fazer as malas

existe uma vila/aldeia/terra/coisa que se chama quinta do arroz doce. não digo mais nada.

Karev para presidente!


A melhor coisa que a televisão portuguesa fez nos últimos tempos

OS TELETUBBIES VOLTARAM A PASSAR NA SIC LOGO DE MANHÃZINHA!!!!!!!!!

[em maiúsculas, com um toque de histerismo]

vi o primeiro episódio nestes dias em que fui a terras lusas e oh senhores, se aqueles bichos não são a personalização do amor, então nada o é.

O ridículo da situação

foi preciso voltar a portugal, ao verão, para ficar constipada.