27.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte quatro

e eventualmente a realidade deixou de ser tão difícil de suportar. as lágrimas secaram e o pânico desta cidade tão tão longe de tudo o que eu conhecia encontrou um lugar sossegado dentro de mim. disse-o várias vezes: foi o inverno mais frio da minha vida. embora estivesse bastante frio lá fora, isso era só um pormenor desse inverno. mas foi nessa altura, no decorrer desses dias em que a realidade se tornou mais simpática, que eu percebi que, mesmo o inverno mais frio, ia chegar ao fim. e chegou. aos poucos o inverno foi acabando. tanto lá fora como cá dentro. e eu descobri que as paredes cor de rosa também me sabiam sorrir. que a minha manta também dava abraços quentinhos. desde essa altura e até começar a achar que este quarto me sabia a casa ainda se passaram muitos meses. longos meses. por essa altura era uma tortura voltar a casa, à casa onde sempre vivi. quanto mais lá ia, mais queria ficar e menos queria voltar. quanto mais lá ia mais percebia que devia ter ficado aqui. lembro-me de sentir que era como se não pertencesse a lado nenhum. aquele não era mais o meu espaço e constatar isso doía como se tivesse engolido um pedaço de carne demasiado grande, que magoa enquanto desce devagar pela traqueia. mas este também não era o meu espaço. este era só o sítio onde eu estava.

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