26.10.16

Estas paredes cor de rosa, perdão, as minhas paredes cor de rosa, parte três

a primeira noite foi um desafio. as minhas malas pesavam à volta de trinta quilos cada uma e tive de subir dois andares com elas. precisava de dormir e não havia tempo para lavar os lençóis. dormir numa cama com lençóis por lavar foi provavelmente o maior desafio que tive de superar nessa semana. foi difícil mudar de casa enquanto trabalhava. sem dias de folga e com menos horas de sono do que as desejadas, era difícil conseguir realmente fazer a mudança. acho que me deve ter levado umas duas ou três semanas até conseguir esvaziar as malas e tirá-las do chão do quarto. o resto foi um processo gradual. levou meses até este quarto me saber a casa. as paredes cor de rosa olhavam para mim com um ar frio e, embora estivesse contente por termos conseguido a casa que queríamos, eu não queria estar aqui. sair de casa para ir trabalhar naquilo que durante tantos anos tinha esperado deixava-me empolgada. à noite, quando voltava a casa e me deitava, as paredes cor de rosa faziam a barriga doer. já o disse uma vez: estas paredes viram muitas lágrimas nos primeiros tempos. estas almofadas abafaram muitos gritos mudos e esta manta protegeu-me do papão debaixo da cama. embora me custe pensar sobre o assunto e, principalmente recordar essa altura, a verdade é que houve uns quantos dias - não muitos, felizmente - em que a realidade era demasiado triste para sequer ponderar sair da cama e enfrentá-la. e então eu fiquei. fiquei na cama dias inteiros a ouvir o vento uivar lá fora.

Sem comentários:

Enviar um comentário