9.11.17

Manganet aos 23 anos

acredito que, até prova em contrário, todas as pessoas são boas pessoas. por vezes, até mesmo com provas em contrário. acho que ainda está para vir um problema que o gelado não ajude a resolver. tenho muita muita dificuldade em tomar decisões e, depois de feito, fico sempre a questionar-me se foi a decisão certa. não gosto de montanhas russas e tenho medo de gatos. os gatos, porém, tendem a gostar de mim - segundo os seus donos. tenho mais livros na minha estante de livros para ler do que aqueles que consigo ler. não sei gostar de nada ao de leve. quando gosto, torna-se imediatamente a minha coisa preferida até lhe perder o interesse por completo. nunca mais me voltei a esbarralhar no chão desde que deixei de ter aulas de educação física - muitas vezes ainda me questiono como consegui sobreviver a doze anos daquilo. continuo a ter mais perguntas do que respostas mas a vida faz-me sentido. acordo [quase] todos os dias com a certeza de que estou onde queria estar, pelo menos por agora. não sou boa a fazer grandes planos para o futuro. aceitei que - por mais cliché que seja - só tem um coração partido quem se deixou amar e fiz as pazes comigo mesma, mesmo nas noites em que choro até adormecer. aprendi a estar sozinha sem me sentir solitária, embora nem sempre me apeteça estar sozinha. tenho a minha própria casa e sabe-me bem estar aqui. a única coisa que me falta é um microondas e talvez um dia trate disso. pela primeira vez em muito tempo, não estou farta do que faço. tenho um trabalho que me faz feliz e, embora seja um trabalho e muitas vezes preferisse ficar em casa de papo para o ar, não me imagino a fazer mais nada neste momento. no início no ano cortei o cabelo bem curto. apeteceu-me. queria ver como me ficava. gostei. há uma certa liberdade que só um cabelo curto nos dá. também já não tenho franja, mas isso já não é de agora. comecei a publicar vídeos regularmente no youtube e há qualquer coisa de fantástico em poder falar sobre os assuntos que me interessam sem me preocupar se estou a aborrecer a pessoa à minha frente ou não. por falar nisso, aos vinte e três anos continuo a falar de mais. dizem-me que conto as coisas carregadas de pormenores e que a maioria das pessoas não consegue fazer isso. eu acho que é só uma forma simpática de me dizerem que conseguiria transmitir a ideia essencial da história sem tanto blá blá blá, mas isso é uma arte que ainda não dominei. a minha mãe continua a insistir que eu devia escrever um livro. as pessoas dizem-me várias vezes que eu dava uma boa psicóloga. não lhes digo nada, mas sorrio sempre perante essa ironia. tal e qual como uma criança de cinco anos, um dos meus pratos preferidos continua a ser douradinhos. e nada faz frente a uma [ou duas] fatias de pudim. os dias não são todos bons e as coisas nem sempre correm como eu achei que iriam correr. há muitas coisas que acho que ficam à quem do seu potencial. sinto sempre tudo demasiado intensamente e isso muitas vezes [quase sempre] deixa-me de rastos. mas há muitos anos atrás alguém me disse é aos poucos que a vida vai dando certo e eu lembro-me dessa frase muitas vezes. aos vinte e três anos aprendi que o auto-amor é necessário e que também o é libertarmo-nos do que nos puxa para trás, que às vezes é preciso dar dois passos atrás para a seguir darmos uns quantos em frente. existem muitas razões para sorrir mas, ainda assim, também não faz mal sentirmo-nos tristes. a tristeza é inevitável e a dor faz parte do crescimento. não tenho jeito para tomar decisões e durante muito tempo questionei várias vezes as grandes decisões que tomei nos últimos dois/três anos da minha vida, mas quando olho para trás não consigo deixar de sentir um certo orgulho em mim mesma por ter sido capaz de não só as tomar, mas também de seguir em frente com elas, mesmo quando parecia que já não estava a ir a lado nenhum.
aos vinte e três anos, não tenho tudo o que sempre quis, mas estou psicologicamente num sítio feliz e sei que estou a caminhar na direção certa. aprendi que a única coisa que cai do céu é a chuva e que os sonhos só se tornam realidade quando fazemos alguma coisa por eles e eu não estou pronta para desistir dos meus.

2 comentários:

  1. Este texto está muito bonito e vou-te citar numas quantas frases. Mas "dois paços" escreve-se com dois s: passos .
    com muito amor <3

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    1. claro que é com dois S! que parvoíce ahahaha :) obrigada por corrigires! remeto-te já aqui para a minha publicação da emigrante bimba :p http://diz-me-ao-que-queres-jogar.blogspot.com/2017/11/ainda-so-se-passaram-dois-anos-e-ja.html

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