20.1.16

Perguntaram-me se tinha saudades de portugal

e cada vez que essa pergunta surge [não são poucas] passam-me mil imagens pela cabeça. penso nos meus pais, na minha casa, no meu quarto, nas minhas coisas, nos meus avós, nos meus amigos, na minha [que já não é minha] faculdade, nas minhas estradas, nos meus passeios. penso em todas as ruas que conhecia de trás para a frente e que agora - embora ainda só tenham passado dois meses e pouco - já tenho de pensar duas vezes para me lembrar do caminho. lembro-me da sensação de poder ignorar o despertador e pensar amanhã voltamos a tentar. e depois lembro-me de coisas mais parvas, como este inverno que não é inverno nenhum, este frio que não congela e esta chuva que cai a direito. lembro-me do cheiro do shampoo que uso aqui, do barulho que autoclismo da casa de banho faz e de como as toalhas têm sempre a mesma textura. quando me perguntam se tenho saudades de portugal, a resposta nunca pode ser sim ou não. porque quando me perguntam se tenho saudades de portugal, para mim não é a isso que se referem, para mim portugal é tudo aquilo que deixei para trás. tudo aquilo que, embora não tenha perdido, deixou de ser tão meu. há uns tempos disseram-me que quando vamos embora é como se passassemos a ser espectadores das coisas das quais em tempos fizemos parte. na altura achei que era verdade, mas só hoje, depois de me ter despedido das minhas amigas pela segunda vez, percebi o quão verdade é. todas aquelas coisas que conversamos, aquela realidade que em tempo também foi a minha, tudo isso fica aqui, as amigas ficam aqui, está tudo na mesma. só tu é que não estás cá. a vida continua a girar. e tu aprendes a dizer adeus, ou até já, dás um abraço e um beijinho às amigas que te conhecem como já mais ninguém conhece fora deste país, engoles as lágrimas e respondes à pergunta com um há dias mais difíceis do que outros, mas está tudo bem.

3 comentários:

  1. Esta parte não nos contam não.
    Eu tiro sempre unpaid no Inverno pelo menos um mês para não ter de suportar o inverno nesses sítios.
    As coisas estão lá, as pessoas também... Mas não é a mesma coisa. Também sinto isso. É algo com que temos de nos habituar a lidar e perceber que a nossa casa começa a ser mais desse lado do que cá... (e é por isso que gasto dinheiro em coisas inuteis de decoração na primark e nas tkmax)


    Espero que te tenhas adaptado bem aí :)
    Beijinho*

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  2. uma espécie de ser-se estrangeiro permanentemente...

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