15.7.12

Dos ficou-por-dizer-mas-pode-ser-que-um-dia-ainda-me-saia

às vezes dou por mim a perguntar-me se ainda te lembras, como eu me lembro, da primeira vez que nos vimos. Tu estavas lá nas tuas matemáticas quando eu entrei e me esbarrei em ti. Disseste olá e só depois, quando levantaste a cabeça e trocaste as matemáticas por mim, é que te apercebeste que nunca nos tínhamos visto por ali. Ainda me lembro, estava a chover nesse dia e era de noite quando fui embora. Assim que a porta se fechou atrás de mim peguei no telemóvel e mandei-lhe uma mensagem a falar-lhe de ti. Estava tão entusiasmada. Ele perguntou-me como te chamavas e eu percebi que nem isso sabia. A conversa não foi muito além daqueles olás. Passaram-se dias, ou semanas [confesso que não me lembro] e continuámos os dois a ir lá, sem nos voltarmos a cruzar. E estava eu nas minhas matemáticas quando disseste olá pela segunda vez e a tua voz não me foi estranha. Quando levantei a cabeça e te vi ali, à minha frente, outra vez devo ter sorrido tanto que deves ter pensado que eu era maluca. Tenho de te confessar: quando saiste, a primeira pergunta que lhe fiz foi como é que ele se chama? e fiquei a repetir mentalmente o teu nome. Sim, claro, quando a porta se fechou atrás de mim voltei a pegar no telemóvel e a mandar-lhe mensagem, como uma criança de cinco anos na véspera de natal, e escrevi hoje vi-o e já sei como se chama. Parece que foi ontem. Ainda me lembro das mãos a tremer enquanto escrevia a mensagem. Entrei no elevador e respirei fundo antes de carregar no zero. Estava a sorrir como se tivesse acontecido algo muito importante. Passaram-se semanas [e destas lembro-me bem] sem te ver. E depois, sem dar por isso, tinham acabado as aulas e eu achei que nunca mais te ia ver. E no último dia peguei no telemóvel e escrevi ele não estava lá e agora acabou. E entrei no elevador. Os meses puseram-se pelo meio e nem dei por eles. Não voltei a pensar em ti. E depois, sem dar por isso, outubro. E estava eu no meu cantinho quando ouvi o olá. Olha estás aqui! e tu também estavas. Ali, mesmo à minha frente. Nesse dia o elevador não foi só meu e quiseste saber para onde ia. E acabaste por ir comigo. Falámos como se nos conhecêssemos há mais tempo do que na realidade conhecíamos. E passámos a ver-nos todas as semanas, como se fosse a coisa mais natural de acontecer. Não demorou muito tempo até trocarmos números de telemóvel. A primeira mensagem levou à segunda e à terceira. Falámos durante horas no primeiro dia e eu contei-te a minha história de quase-amor. Falar contigo passou a ser parte do meu dia e os meses foram passando. Não sei como foi que chegámos aqui e já te perguntei, qual foi o ponto de viragem? e a resposta não sei, aconteceu pareceu-me encaixar na perfeição. Das coisas que pensei serem possíveis ou até plausíveis de acontecer entre nós nunca me tinha ocorrido isto, nem sequer parecido. Aconteceu tudo tão naturalmente que nunca questionei. Nem tu. E ambos sabemos o que temos pelo meio e, no entanto, continuamos aqui. Passaram-se meses e eu continuo sem saber como foi que aqui chegámos, mas estou feliz por termos chegado. Esta não é uma história de amor, nem perto disso, mas e então, ainda te lembras da primeira vez que me viste?

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