22.9.21

manganet a um mês dos vinte e sete anos

continuo a confiar demasiado nas pessoas. mas acredito menos nelas. a vida mostrou-me que nem toda a gente nos quer bem. não significa que nos queiram necessariamente mal, mas também não nos querem bem. algumas pessoas simplesmente não nos querem nada. não voltei a cair no chão de forma literal, como acontecia nas aulas de educação física, mas caí ao chão. muitas vezes. várias vezes. de formas tão diferentes e doeu tanto. ainda dói. aos quase vinte e sete anos, passei pela primeira vez um natal longe dos meus pais. aos quase vinte e sete anos, comprei a minha primeira casa. aos quase vinte e sete anos, perdi o meu emprego de sonho. aos quase vinte e sete anos, despedi-me da minha avó.
dizem-nos que a vida é feita de altos e baixos. sorrimos a acenamos. não estou mais psicologicamente num sítio feliz e sei que estou a caminhar na direção certa. na maioria dos dias sinto que estou a andar em circulos e que perdi o rumo. aos vinte e três anos, chorava até adormecer porque tinha um coração partido, às vezes. aos quase vinte e sete anos, o coração ficou tão pequenino que tenho dias que não sei dele. noutros dias está tudo bem. mas os dias bons, os dias mesmo bons já lá vão. não me leves a mal, está tudo bem. mas consigo reconhecer que dos altos e baixos da vida, estou num ponto plano. há mais para baixo, mas também há mais para cima.
aos quase vinte e sete anos, continuo a adorar douradinhos mas raramente os como. não me lembro da última vez que comi pudim mas tenho saudades. descobri que gosto de comida mexicana. aprendi a gostar de comida ligeiramente picante (mas hey, continuo a preferir comida não picante - há coisas que não mudam).
voltei a ter cabelo curto. as semelhanças com a manganet de vinte e três anos são tantas que não consigo evitar sorrir. já ninguém me diz que dava uma boa psicóloga, agora dizem-me só para ter mais paciência com as coisas. continuo a sentir tudo intensamente. tenho dias em que a vida me passa por cima. as minhas emoções levam-me à exaustão.
aos quase vinte e sete anos, continuo a ver o copo meio cheio. sempre meio cheio. os óculos cor de rosa moram permanentemente na minha cara, embora nem sempre pareça, eles estão lá. acho sempre que vai ficar tudo bem, que tudo se resolve, que tudo tem solução, que conseguimos tudo, que podemos tudo. a vida sorri-me na maioria dos dias. aprendi a aceitar que há alturas da vida que são só um capítulo, um soluço. aos quase vinte e sete anos, continuo a não ter tudo o que quero, perdi algumas das coisas que tinha e queria, ganhei outras que nem queria. mas está tudo. aos quase vinte e sete anos continuo a chorar a ver grey's anatomy e a comer gelado no inverno. afinal, há mesmo coisas que nunca mudam.

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